Risco hidrológico entra na conta dos chineses
Há uma parcela significativa dos ativos adquiridos que ainda está exposta ao risco hidrológico
17/04/2017

Valor - 18.04.2017 - Enquanto se concentra na gestão das aquisições feitas recentemente no Brasil, a gigante China Three Gorges (CTG) segue avaliando novos investimentos no país. A questão do risco hidrológico, porém, tem pesado nas análises da companhia, disse Evandro Vasconcelos, vice-presidente de Geração da CTG Brasil, em entrevista exclusiva ao Valor.

"Nós analisamos novos investimentos, mas as avaliações são feitas sob o ponto de vista de retorno do capital investido", disse Vasconcelos. O problema é que, dos ativos adquiridos recentemente pela companhia, há uma parcela significativa que ainda está exposta ao chamado risco hidrológico, medido pelo fator GSF (na sigla em inglês).

As hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira estão protegidas do GSF nos 70% da garantia física contratados no mercado regulado. Os 30% do mercado livre, porém, estão expostos, o que deve resultar num resultado abaixo do esperado neste ano. "Temos uma parcela de 12% de hedge para este ano, vamos ficar expostos", disse.

Além disso, as usinas da CTG Paranapanema, antiga Duke Energy Paranapanema, têm pouco mais de 800 megawatts (MW) médios de garantia física destinados ao mercado livre, que também não repactuaram o risco hidrológico. As usinas estão protegidas do GSF por uma liminar desde 2015, mas os montantes referentes à exposição são provisionados no balanço da empresa.

"As empresas fazem uma projeção do ano seguinte prevendo como será o resultado, com despesas, investimentos, Ebitda e lucro, e manda para a matriz. A matriz esperava um lucro que não vai acontecer, o impacto é muito grande", disse Vasconcelos, se referindo aos efeitos do GSF.

As projeções atuais indicam que o GSF pode ser de 16% a 20% neste ano. Isso significa que, para que os reservatórios das hidrelétricas possam ser preservados, elas só poderão gerar de 84% a 80% de suas respectivas garantias físicas ao longo do ano. Se uma fatia maior estiver comprometida, as usinas terão que arcar com a exposição ao mercado de curto prazo, em que os preços estão elevados.

"A grande discussão é essa. O despacho de termelétricas fora da ordem de mérito é correto porque aumenta a segurança do sistema, mas não podemos pagar essa conta que foi feita para a sociedade, tem que ser colocada para o consumidor", afirmou.

Apesar desses problemas, a empresa segue com o objetivo de crescer no país. "A CTG veio para o Brasil para ficar. Até como parte da cultura chinesa, que é milenar, ele não pensam em poucos anos. A companhia está no Brasil e pretende ficar no Brasil", afirmou.

(Camila Maia | De São Paulo)