Grandes elétricas investem em geração distribuída
Companhias usam experiência no setor para tentar conseguir destaque em um mercado em ascensão
23/05/2017

Valor - 22.05.2017 - O forte crescimento da busca dos consumidores por geração distribuída está forçando as grandes empresas do setor elétrico a se posicionarem nesse segmento, tanto para aproveitar a expansão quanto para se proteger das futuras mudanças no modelo de distribuição de energia. É o caso de CPFL Energia, AES Tietê, Enel e Engie Brasil Energia, entre outras.

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o número de conexões de micro e minigeração distribuída superou 10 mil instalações até o início de maio, somando 113,195,48 quilowatts (kW). Apenas a fonte solar fotovoltaica representa 10.411 das 10.519 instalações existentes, beneficiando 11.494 unidades consumidoras, numa potência instalada de 80.406 kW.

É justamente na fonte solar que apostam as grandes companhias de energia do país.

Nas instalações de geração distribuída, os consumidores podem gerar a própria energia consumida, com injeção na rede do que houver de excedente, em troca de uma remuneração. No setor, o termo "prosumidor" tem ganhado cada vez maior espaço, indicando o consumidor que é, ao mesmo tempo, um produtor de energia.

A Engie Solar nasceu em abril do ano passado, quando a antiga Tractebel Energia adquiriu a área de geração distribuída da Araxá Solar. Desde então, a empresa já alcançou um total de 300 sistemas instalados e pretende chegar a 1.500 até o fim do ano.

"Estamos buscando um crescimento importante para os próximos anos porque uma das nossas estratégias é nos posicionar como líder de mercado. É um mercado que deve consolidar em algum momento. Temos expectativa de estar participando ativamente dessa consolidação", disse Rodolfo Pinto, presidente da Engie Solar. Do faturamento atual da companhia, que deve ser superior a R$ 40 milhões no ano, 50% é relativo ao setor residencial e a outra metade se refere ao segmento comercial.

A CPFL Energia também se posicionou para atender o mercado residencial e os clientes comerciais. O grupo, que já atendia grandes clientes na CPFL Serviços, lançou no início do mês a Envo, voltada exclusivamente para os setores residencial e comerciais de pequeno porte.

"Decidimos por esse caminho também de geração residencial ou comércio de baixa tensão acreditando que esse movimento deve crescer no país", disse Karin Luchesi, vice-presidente de Operações de Mercado da CPFL Energia. Segundo ela, o consumidor de energia cada vez mais quer ter em mãos o poder de todas decisões. "Acreditamos muito nesse viés de empoderamento do consumidor."

Por ser um grande grupo, a CPFL acredita ter vantagens para crescer nesse mercado. "Temos mais poder de negociação, até mais capacidade de atender um mercado maior", disse Karin.

A AES Tietê também utiliza a geração distribuída como um diferencial para se destacar no mercado de energia atual. Além da geração distribuída, a elétrica também oferece serviços de eficiência energética e oferece a melhor solução completa para o cliente, explicou Ítalo Freitas, presidente da empresa.

O foco é nos grandes consumidores, que podem ter unidades consumidoras em todo o país. "Entra aí a grande vantagem da AES Tietê. Em várias localidades, pode não ser vantajoso ter energia solar, mas sim microgeradores hidrelétricos ou co-geração a gás", disse Freitas.

A Enel Soluções também tem a atuação mais voltada para clientes de médio porte. Segundo Carlo Zorzoli, presidente da Enel Brasil, o cenário atual coloca no crescimento dessa tecnologia uma oportunidade e um desafio para uma companhia elétrica.

"De um lado, é uma nova oportunidade de negócios em que a Enel pode trazer para clientes toda a experiência que tem acumulada em anos de atuação na geração solar, seja em pequena ou grande escala. De outro lado, é um desafio na medida em que a geração distribuída, quando crescer muito, vai precisar também de mudanças na gestão da rede. Temos a vantagem de conhecer bem os dois lados", disse Zorzoli.