BNDES busca soluções para financiar projetos de geração para mercado livre
Uma das condicionantes será que os projetos de geração cheguem mais maduros ao banco, com maior previsibilidade no planejamento
06/06/2017

Valor - 02.06.2017 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está tentando encontrar soluções para viabilizar financiamento de longo prazo para projetos de geração de energia voltados para o mercado livre, disse ontem Carla Primavera, superintendente da área de energia do banco, durante encontro de negócios promovido pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Segundo Carla, o BNDES concentrou muito esforço nos últimos anos na discussão de como equacionar um projeto de longo prazo no mercado livre.

"Talvez tenhamos tentado colocar a roupa do financiamento do mercado regulado no mercado livre, e talvez essa não seja a discussão correta", disse Carla.

O BNDES abriu uma agenda com a Associação Brasileira de Comercializadoras de Energia (Abraceel) para discutir como pode apoiar o mercado livre, e estão discutindo outras alternativas, segundo Carla. "Será que conseguimos fazer um financiamento de longo prazo com amortizações móveis, de acordo com a variação do preço de energia? O mercado livre pode ser melhor estruturado e ter melhor previsibilidade?", questionou ela.

Outro ponto que pode ser discutido é sobre o pacote de garantias oferecido e sobre como estruturar isso. Segundo Carla, o BNDES tem discutido com bancos comerciais como tornar as finanças mais claras.

"Tenho defendido que a gente não deve chegar a um único modelo ou caminho, que possamos dar aos clientes e empreendedores uma alternativa, e que o cliente possa escolher qual a melhor para ele", afirmou.

Carla defendeu ainda a necessidade de que os projetos de geração de energia cheguem mais maduros ao banco, para que possam ter maior previsibilidade no planejamento de quanto tempo levará para os desembolsos.

Já contando com o endurecimento das regras do BNDES para conceder crédito, o evento também discutiu alternativas de financiamento para projetos de energia renovável, tanto no mercado regulado quanto no mercado livre.

Segundo Marcelo Girão, chefe da área de project finance do Itaú BBA, o desenvolvimento de novas fontes de financiamento para projetos de energia renovável depende de uma maior previsibilidade nos mecanismos de formação dos preços de energia.

Ele contou que é muito difícil explicar para um investidor como funciona a formação do preço de liquidação das diferenças (PLD, preço referência das operações no mercado à vista de energia), qual o risco que ele vai tomar.

Isso porque, enquanto o mercado regulado oferece contratos de longo prazo com uma tarifa estável, o mercado livre tem contratos de prazo muito menor, e os preços variam de acordo com a demanda e fatores externos, como a hidrologia e o PLD.

"É um risco impensável", disse Girão, completando que é impossível se prever os cenários de chuva e de preço. Para ele, o ideal seria que o país tivesse um mecanismo de formação de preços mais previsível, para que os investidores pudessem ter uma noção maior do risco assumido.

"Para que o mercado financeiro entenda os preços e tome o risco, precisaremos de regra muito previsível. É muito difícil fazer a análise", disse o chefe de project finance do Santander, Diogo Berger.

De acordo com Sérgio Brandão, chefe de energia da gestora britânica Actis no Brasil, é necessário expandir o mercado secundário de debêntures e bônus voltados para o financiamento de projetos de infraestrutura.

"Hoje, o que se financia do capex em debêntures fica em torno de 10% a 15% do total, precisamos do BNDES, não tem outro jeito", disse. Segundo ele, se uma pequena parcela dos ativos sob gestão dos fundos de pensão, por exemplo, pudesse migrar para os bônus e ajudar a criar um mercado secundário, "o mercado de capitais poderia ser vistoso e sem as complicações atuais."

Por Camila Maia