Governo tem janela até abril para resolver GSF
A CCEE prevê que fevereiro e março terão GSF positivo
27/02/2018

Valor - O governo deveria aproveitar o cenário positivo do risco hidrológico (medido pelo favor GSF, na sigla em inglês) neste início de ano para tentar acelerar um acordo para encerrar a guerra na Justiça sobre o assunto, de acordo com Lucas Rodrigues, analista de mercado da Safira Energia.

"Espera-se que, mais ou menos até abril, não se tenha GSF abaixo de 1. Abre-se uma janela em que não vai onerar mais esse passivo. É um período de alívio para se pensar de fato [em uma solução]", disse Rodrigues ao Valor.

Segundo dados disponibilizados ontem pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o mês de fevereiro deve ter um GSF positivo de 113%, subindo para 113,3% em março. Quando o indicador fica positivo, significa que a produção total de energia foi maior que a garantia física das hidrelétricas no período.

Além do início do ano ter uma hidrologia mais favorável, as hidrelétricas em geral "sazonalizam" os contratos de venda de energia para meses mais secos, devido à expectativa de elevação nos preços. Se as previsões de alta no preço da liquidação das diferenças (PLD, referência do mercado à vista de energia) se concretizar, aquelas usinas que deslocam seus contratos para esses meses poderão vender a energia a um valor maior.

O cenário de GSF positivo deve começar a se inverter em meados do ano, voltando a representar um problema para as hidrelétricas e para o governo. O analista da Safira prevê um déficit de geração das hidrelétricas de 10% a 15%, o que resultaria em um custo de R$ 4 bilhões no mercado livre, além dos R$ 6,04 bilhões que estão travados nas operações do mercado de curto prazo por força de liminares de geradores.

A previsão da comercializadora está em linha com a apresentada pela CCEE ontem. A câmara de compensações prevê um GSF médio de 13,1% no ano, com custo financeiro de R$ 13 bilhões caso todas as hidrelétricas estivessem com as garantias físicas 100% contratadas. No mercado regulado, em que a maior parte das usinas comprou algum tipo de seguro contra essa exposição, o efeito seria de R$ 9 bilhões. No mercado livre, a estimativa é que o custo chegaria a R$ 4 bilhões.

Enquanto o governo tenta negociar com as hidrelétricas para resolver o impasse e destravar o mercado à vista de energia, tentam, via emenda, incluir uma solução para a judicialização do GSF na Medida Provisória (MP) 814 - que originalmente trataria desse tema. A MP tem até o início de junho para ser aprovada.

Por Rodrigo Polito e Camila Maia