Modelo de térmica associada ao poço de gás atrai investidor
Eneva quer replicar modelo em menor escala, em projetos que variam de 100 a 150 megawatts
08/03/2018

Valor - 07.03.2018 - Quatro anos após o início da operação do Complexo Parnaíba, no Maranhão, a geração "gas-to-wire" (como é conhecida a construção de termelétricas na boca do poço de gás) começa a ser replicada em outras regiões do país. Pioneira no desenvolvimento do modelo, no Brasil, a Eneva pretende confirmar a construção dessas termelétricas como um dos principais eixos de crescimento nos próximos anos, dentro do seu novo plano estratégico. Enquanto isso, outras empresas, como Imetame e Tradener, também miram oportunidades no segmento.

Segundo o presidente da Eneva, Pedro Zinner, o objetivo é replicar o modelo adotado em menor escala, em projetos que variam de 100 a 150 megawatts. Hoje, a empresa opera um complexo de 1,4 gigawatts, no Maranhão, composto por quatro usinas que geram receitas fixas da ordem de R$ 1,15 bilhão por ano, no mercado regulado.

Em novembro, a Eneva deu seu primeiro passo, para replicar o modelo de Parnaíba, ao adquirir, por US$ 54 milhões, o campo de gás natural de Azulão, localizado na Bacia do Amazonas. Zinner afirma que o desejo é inscrever o projeto de uma termelétrica, na região, ainda este ano.

"O objetivo é viabilizar o projeto [de Azulão] para participarmos do leilão existente A-6 [previsto para este ano, mas ainda sem data marcada]. Olhamos outras alternativas no mercado. Existem uns PPAs [contrato de compra e venda de energia de longo prazo, do inglês Power Purchase Agreement] no mercado que tinham compromisso de entrega e não vão conseguir honrar os compromissos. Isso pode viabilizar a transferência de PPAs para quem tem melhores condições", disse Zinner, em entrevista exclusiva ao Valor.

A Eneva espera que a compra de Azulão seja concluída ainda neste primeiro trimestre. O executivo explica que, a princípio, a intenção é aproveitar o projeto termelétrico original, de 110 megawatts, desenvolvido pela Petrobras. A usina térmica já está licenciada e foi, inclusive, inscrita em leilões passados.

O diretor de exploração e produção da Eneva, Lino Cançado, explica que, embora situada em outra região, o desenvolvimento de Azulão guarda semelhanças com o Parnaíba.

Além de seus próprios projetos, a Eneva é parceira de empresas interessadas em investir no segmento

"A distância do campo de Azulão para a capital [Manaus] é praticamente a mesma [do complexo do Parnaíba a São Luís]. Não estamos dentro da Floresta Amazônica, temos uma linha de transmissão a cerca de 12 quilômetros do campo, três cidades próximas. A condição é favorável. É similar ao Parnaíba do ponto de vista logístico", explicou.

Além de Azulão, a Eneva também pretende construir novas usinas no Maranhão, se confirmadas novas descobertas de gás natural na região. Segundo Zinner, nas áreas mais próximas do complexo, as futuras descobertas serão utilizadas para garantir a operação das termelétricas já existentes, no longo prazo. Já nas áreas mais distantes, o plano é monetizar eventuais reservas que sejam descobertas a partir da construção de novas termelétricas, de 100 MW a 150 MW.

"É uma vertente de crescimento mais modular e em escala menor", disse o executivo.

Além do desenvolvimento de suas próprias reservas, a Eneva, segundo Zinner, é "parceira de escolha natural" de empresas interessadas no desenvolvimento de projetos "gas-to-wie", sobretudo no Parnaíba. Além da empresa, operam na região a Petrobras, Galp, Ouro Preto e Vipetro.

A Parnaíba Gás Natural (PGN), subsidiária da Eneva participou das últimas duas rodadas de concessão de blocos exploratórios. Na 13ª Rodada, em 2015, e na 14ª Rodada, no ano passado, a empresa arrematou 12 blocos, com o objetivo de fortalecer sua presença no Parnaíba.

A empresa opera 17 das 30 áreas sob concessão atualmente na Bacia do Parnaíba e se inscreveu para participar da 15ª Rodada, que ofertará, em terra, blocos no Parnaíba e Paraná. Questionado se a empresa poderia expandir sua atuação para fora do Maranhão, Zinner preferiu não comentar a estratégia de participação no leilão.

"Mas chamou a atenção, na 14ª Rodada, o fato de a Petrobras, uma empresa que tem foco no pré-sal, ter entrado na Bacia do Paraná", comentou.

Por André Ramalho