Mercado livre de energia cresce com leilões
Há preços mais atrativos no mercado livre comparativamente aos de leilões
09/04/2018

Valor - Os preços baixos dos leilões recentes de energia realizados pelo governo estão ajudando, involuntariamente, a fomentar o crescimento do mercado livre, no qual os consumidores podem escolher de quem comprar a energia. Para viabilizar os projetos, os investidores estão apostando em um mix entre contratos no mercado regulado, das distribuidoras, e no mercado livre, que oferece preços muito mais atrativos.

O principal obstáculo do mercado livre é o financiamento, pois os bancos de fomento exigem contratos de longo prazo de venda de energia como garantia. Enquanto com as distribuidoras os contratos duram de 20 a 30 anos, no mercado livre, é considerado de longo prazo um contrato de venda de energia por cinco anos.

A preferência dos investidores sempre foi pela contratação de projetos em leilões, mas as distribuidoras de energia têm declarado demandas baixas nos últimos anos. Além disso, não foram feitos leilões entre 2015 e 2017.

A saída dos empreendedores tem sido vender projetos em leilões a preços baixos, contratando apenas parte da energia. Assim, os investidores conseguem financiamento de longo prazo para a fatia da energia contratada pelas distribuidoras, e utilizam outros instrumentos, como as debêntures de infraestrutura, como complemento.

"A estratégia de boa parte dos investidores, principalmente no setor eólico, era vender apenas uma parte da energia assegurada no mercado regulado, deixando uma parte para o livre, onde os preços estão melhores", disse Edson Ogawa, responsável pela área de Project Finance do Santander no Brasil. Além da vantagem relacionada ao financiamento de longo prazo, Ogawa lembrou que os vencedores dos leilões também têm prioridade no acesso à conexão com a rede de transmissão para escoar a energia gerada.

A tendência, segundo especialistas, é que isso torne a aumentar a proporção da oferta de energia no mercado livre de energia, resolvendo um nó para o governo, que prevê a abertura gradual deste ambiente de contratação nos próximos anos, mas sem a garantia de oferta de energia.

"Temos preços muito melhores no mercado livre que os negociados em leilão. Então, os investidores estão olhando mais para o livre, o que talvez possa resultar em um equilíbrio maior entre os dois ambientes de contratação", disse Thais Prandini, diretora executiva da Thymos Energia. Atualmente, o mercado cativo representa cerca de 70% do consumo de energia no país, ante 30% do livre.

Para efeito de comparação, a fonte eólica saiu pelo preço médio de R$ 67,70 por megawatt-hora (MWh) no último leilão do governo, realizado na quarta-feira passada. A energia solar saiu pelo preço médio de R$ 118,07/MWh. No mercado livre, contratos de cinco anos estão com preço médio de R$ 160 a R$ 170/MWh. Fontes incentivadas, como solar e eólica, têm ainda um prêmio embutido no preço de cerca de R$ 50/MWh.

A francesa EDF foi a única vencedora do leilão com um projeto de eólicas, ao contratar 33,4 MW médios da garantia física total do ativo, de 57,7 MW médios.

"É interessante vender uma parte em leilão, mas deixando uma parcela no mercado livre, que poderá ser vendida a preços melhores", disse Lucas Araripe, diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos, que desenvolveu o parque eólico contratado pela EDF.

Outra questão que favorece esse novo tipo de projeto que reúne mercado livre e regulado é o fato de que o perfil dos vencedores recentes de leilões mudou, segundo Ogawa, do Santander. "Hoje, os vencedores são grandes 'utilities', que obviamente têm acesso grande ao mercado livre e com braços de comercialização", disse.

Para o diretor-geral da consultoria dinamarquesa especializada no setor eólico K2 Management para a América Latina, Hebert Nascimento, as vencedoras dos últimos leilões de energia são empresas grandes, consolidadas e com experiência no segmento. O especialista acrescentou que, em alguns casos, a empresa possui um portfólio grande e conseguem montar uma equação financeira para vencer o leilão com um preço mais baixo. "Algumas características do capex já estão equacionadas", completou.

Por Camila Maia e Rodrigo Polito