Sterlite arremata principais linhas de leilão da Aneel
Numa licitação que negociou todos os 20 lotes ofertados, com deságio médio de 54,99%, o destaque foi a indiana Sterlite, que arrematou 72,6% da extensão leiloada
29/06/2018

Valor - Após uma espera de sete horas, devido a uma liminar obtida na Justiça contra o certame, os investidores ignoraram o cansaço e confirmaram a expectativa de grande competição no primeiro leilão do ano de linhas de transmissão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ontem na Bolsa B3. No total, 47 investidores foram habilitados, sendo que 12 tentavam entrar pela primeira vez no segmento de transmissão.

Em uma licitação que negociou todos os 20 lotes ofertados, com deságio médio de 54,99%, o destaque foi a indiana Sterlite, que arrematou seis empreendimentos - incluindo os quatro maiores do pacote da Aneel - totalizando 1,859 mil km de linhas (72,6% do total ofertado) e investimentos estimados de R$ 3,6 bilhões (60,6% do total previsto nos projetos leiloados).

Segundo o presidente mundial da companhia, Pratik Agarwal, a empresa planeja investir US$ 1,5 bilhão nos próximos três ou quatro anos no Brasil. Nos últimos anos, a Sterlite investiu cerca de US$ 1,7 bilhão em projetos de energia no país. Ao todo, a empresa planeja alcançar US$ 4 bilhões em investimentos na América Latina até 2022.

"O Brasil é de longe o nosso maior mercado da região" e deve ficar com pelo menos US$ 3,2 bilhões, afirmou o executivo. A empresa planeja também anunciar nas próximas semanas a contratação de um presidente para a subsidiária brasileira.

De acordo com Agarwal, alguns fatores tornam o Brasil um mercado "muito atraente" para a Sterlite. Um deles é a qualidade da regulação do setor. "Nenhum país do mundo tem um histórico de 20 anos de concessões de transmissão de energia como o Brasil."

Segundo o executivo, apesar de algumas empreiteiras brasileiras enfrentarem "problemas financeiros", elas "são de boa qualidade" técnica. O executivo também admite que as incertezas políticas são "um risco" no país, mas que não chega a ser significativo. "Não acreditamos que nenhum partido [que ganhe a eleição], seja de direita ou de esquerda, vá interferir em projetos antigos", afirma.

Previsto para começar às 9h, o leilão ficou suspenso até 16h, devido a uma liminar obtida pela paulista Jaac Service, que havia sido inabilitada para disputar o Lote 3 do certame, por ter habilitado as garantias em nome do consórcio Lara/Jaac. A Aneel havia entendido que tratava-se de um novo concorrente que não havia se inscrito anteriormente. A Lara, porém, pertence ao mesmo grupo econômico da Jaac. O último lote foi arrematado pouco depois das 21 horas.

Depois de a Jaac Service ter prestado esclarecimentos e chegado a um acordo com a Aneel, restou apenas a homologação pela Justiça para o início do leilão. Porém, o alvo da empresa, o lote 3, o maior do certame, com 541 km de extensão, nos Estados de Ceará e Rio Grande do Norte, foi arrematado pela Sterlite, com RAP de R$ 85,05 milhões, representando um deságio de 58,54% em relação ao valor previsto no edital.

Multinacional assumiu mais da metade da extensão ofertada no certame e dos investimentos previstos

Além dos indianos, também foi destaque no leilão a Cteep. Controlada pela colombiana ISA, a companhia arrematou dois lotes, somando 69 km. Foi da Cteep o maior deságio obtido na licitação, de 73,92%, ao ofertar RAP de R$ 10,114 milhões pelo Lote 10, que envolvia um conjunto de obras de transmissão em São Paulo, totalizando 12 km.

A Energisa venceu um lote importante, o de número 19, com 205 km de extensão e investimentos estimados de R$ 480 milhões, no Pará, após uma disputa no viva-voz com os indianos da Sterlite. O consórcio Lyon, formado pela Lyon Infraestrutura, Gestão e Desenvolvimento de Projetos e pela PLM Empreendimentos, venceu três lotes, somando 138 km de extensão, na Bahia, Piauí e Tocantins.

Em entrevista ao final do leilão, André Pepitone, diretor da Aneel, destacou que três dos lotes leiloados são voltados ao escoamento de energias renováveis, e vai permitir que projetos de geração eólica se habilitem para o leilão A-6 previsto para agosto. Ele se referiu aos lotes 3, 7 e 20. "Eles estão dedicados ao escoamento de energias renováveis, eólica e solar, fontes que vêm promovendo o desenvolvimento econômico das regiões", disse Pepitone.

"A Aneel classifica o leilão como extremamente exitoso", disse Pepitone, destacando que esse sucesso reflete a confiança dos investidores no setor de energia elétrica no Brasil", disse o diretor da agência reguladora.

Com dois lotes arrematados, o consórcio BR Enind, composto pela BREnergia, Brasil Digital Telecomunicações e Enind Engenharia e Construção, levantará 49 km de linhas na Bahia e Alagoas. O consórcio Lux Luz, formado por JB Construtora, JHH Participações Eireli e Pacto Energia, também arrematou dois pequenos lotes, com 6 km de extensão, em Goiás e Rio Grande do Sul.

A Zopone Engenharia e Comércio ganhou a concessão de uma linha de 26 km, no Rio de Janeiro. A F3C Empreendimentos e Participações arrematou contrato para construir e operar uma linha de 95 km, no Piauí e Maranhão.

Por Camila Maia, Rodrigo Rocha, Estevão Taiar e Rodrigo Polito