Leilão da Cepisa inaugura privatização de distribuidoras da Eletrobras
Com relação ao leilão da participação minoritária em 70 SPEs (eólica e transmissão), a companhia aguarda o aval do TCU para confirmar a data da licitação
23/07/2018

Valor - 21.07.2018 - O processo de privatização da Cepisa, distribuidora da Eletrobras no Piauí cujo leilão está marcado para a próxima quinta-feira, está bem encaminhado, na avaliação do presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior. Segundo ele, a licitação da empresa, que possui as melhores condições entre os ativos de distribuição à venda da companhia, vai inaugurar de forma positiva o processo de desestatização das distribuidoras da holding.

“[O leilão da Cepisa] inaugura bem o processo. É uma das boas empresas que nós temos. É um desafio. É uma luta muito grande. Mas [o leilão] está bem encaminhado de alguma maneira”, afirmou o executivo, em entrevista ao Valor.

Questionado sobre potenciais interessados no negócio, Ferreira Júnior disse não saber detalhes do processo, já que os trâmites do leilão são conduzidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O executivo, porém, disse esperar que o leilão seja bem sucedido.

Segundo ele, as seis distribuidoras da companhia, além de algumas estatais estaduais, como Cemig e Copel, são as últimas do segmento que não estão sob controle privado. “Estamos vendendo as últimas oportunidades de expansão no setor de distribuição de energia brasileiro”, disse Ferreira Júnior, acrescentando que as distribuidoras da Eletrobras respondem por algo entre 4% e 4,5% do mercado de distribuição brasileiro.

Demonstrando otimismo, o presidente da Eletrobras afirmou que a recente disputa entre Enel e Neoenergia pelo controle da Eletropaulo, e o valor que o grupo italiano pagou pela distribuidora paulista (R$ 5,5 bilhões, além de um compromisso de aumento de capital de R$ 1,5 bilhão) “é uma demonstração de que a regulação está positiva, de que há confiança no Brasil e uma perspectiva de crescimento”.

Ferreira Júnior destacou ainda que as outras cinco distribuidoras — Amazonas Energia (AM), Eletroacre (AC), Ceron (RO), Boa Vista Energia (RR) e Ceal (AL) — deverão ser licitadas em bloco provavelmente em 30 de agosto.

O executivo ressaltou também o apoio do governo para a privatização das distribuidoras. “Temos que agradecer também a atenção que a agência [Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)] deu para isso. O trabalho liderado pelo BNDES também foi fundamental”, completou Ferreira Júnior, reconhecendo também o trabalho da própria equipe de distribuição da estatal.

Com relação ao leilão da participação minoritária da companhia em 70 sociedades de propósito específico (SPEs) em geração eólica e transmissão, Ferreira Júnior disse que a companhia apresentou todos os documentos solicitados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e agora aguarda apenas o aval do órgão para confirmar a data da licitação, prevista para meados de setembro.

Segundo ele, com a venda das distribuidoras e das SPEs, a companhia “com certeza” atingirá a meta de desalavancagem de menos de 3 vezes a dívida líquida sobre Ebtida no fim do ano.

“A relação dívida líquida sobre Ebitda saiu de 8,8 [vezes] em 26 de julho [de 2016, quando ele assumiu a presidência da companhia] para 3,7 [vezes] no primeiro trimestre deste ano. E agora vamos soltar até 15 de agosto [o resultado do segundo trimestre]. Acho que continuamos melhorando. É possível que caia mais um pouco ainda”, afirmou. “A estratégia é para ser menor do que 3 [vezes] no fim do ano. Acho que estamos no caminho certo”, completou ele.

Com relação à hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, Ferreira Júnior contou que, com a geração de caixa a partir das turbinas que já estão em operação comercial, os acionistas não precisarão fazer mais aportes para a conclusão do empreendimento, prevista para setembro de 2019.

“Colocamos a obra de Belo Monte no cronograma, para terminar em setembro do ano que vem. Mas ela [a usina] já está funcionando. A partir de agora, não deve precisar de aporte dos acionistas”, disse ele acrescentando que o último aporte pelos acionistas foi realizado este mês.

Belo Monte já está com 15 máquinas em operação, sendo nove na casa de força principal, totalizando 5.500 megawatts (MW) de capacidade instalada, e seis na casa de força complementar, somando 233 MW.

Quando a usina for concluída, a capacidade instalada será de 11.233 MW, por meio de 24 máquinas, sendo 18 na casa de força principal e as seis da casa de força complementar.

A Eletrobras possui 49,98% de Belo Monte, sendo 15% da holding, outros 15% da Chesf e 19,98% da Eletronorte. Os demais sócios são os fundos Petros (10%) e Funcef (10%), a Neoenergia (10%), a Amazônia Energia (joint-venture entre Light e Cemig, com 9,77%), a Aliança Norte Energia (formada por Vale e Cemig, com 9%), a Sinobras (1%) e a J. Malucelli Energia (0,25%).

Ferreira Júnior afirmou ainda que espera concluir em novembro deste ano as obras da hidrelétrica de Sinop (MT) e de um conjunto de parques eólicos da Chesf, totalizando cerca de 110 MW.

Por Rodrigo Polito