Governo paulista adia leilão da Cesp para 19 de outubro
A nova data leva em conta a perspectiva de que o cenário eleitoral já estará definido
03/10/2018

Valor - 02.10.2018 - A quinta tentativa de privatização da estatal paulista Cesp foi adiada para 19 de outubro, diante da resistência dos investidores de participarem do certame, originalmente previsto para hoje, faltando poucos dias para as eleições.

Segundo fontes, a decisão pelo adiamento ficou para o último momento porque o governo paulista ainda tinha expectativa de conseguir ao menos um investidor para participar do certame. A nova data leva em conta a perspectiva de que o cenário eleitoral já estará definido, tanto para Brasil quanto para São Paulo.

Ontem, as ações preferenciais classe B (PNB) da Cesp fecharam com queda de 7,7%, a R$ 13,70, refletindo as incertezas sobre a realização do leilão. Uma liminar da Justiça do Trabalho de São Paulo havia determinado, na sexta-feira, a suspensão do processo de venda da companhia por 60 dias. A decisão foi cassada na manhã de ontem, mas a Cesp e a secretaria da Fazenda de São Paulo não se manifestaram até o início da noite sobre a realização ou não do certame, o que aumentou a insegurança dos investidores durante o pregão.

A proximidade com as eleições afastou companhias dadas como certas no processo de venda da Cesp, como Engie e Votorantim Energia. As grandes empresas chinesas do setor elétrico, como a China Three Gorges (CTG), também decidiram não participar do certame, devido aos vários problemas relacionados à companhia, como a grande exposição ao déficit de geração das hidrelétricas (GSF, na sigla em inglês). Para piorar a situação, a Cesp está sobrecontratada nos próximos anos.

Segundo fontes, restavam, no páreo, investidores financeiros, como Pátria e Squadra, mas o cenário eleitoral agravava as incertezas sobre o ativo, o que inviabilizou o certame hoje.

Outro obstáculo que afasta investidores está relacionado aos problemas judiciais enfrentados pela companhia, resultantes de processos trabalhistas e ambientais, por exemplo. A Cesp tem cerca de R$ 8,8 bilhões em passivos não provisionados referentes a contingências judiciais.

O governo de São Paulo resistia em adiar o leilão justamente por causa das incertezas sobre as eleições presidenciais. O modelo de venda da estatal foi formulado com apoio da União, que aprovou a extensão da concessão da principal usina da Cesp, Porto Primavera, por 20 anos a partir de 2028, em troca do pagamento de outorga.

Pelo cronograma original do leilão, a liquidação da operação seria feita no fim de novembro. O receio era que, se o certame fosse adiado para depois de outubro, a data da liquidação acabasse indo para 2019, colocando nas mãos de um novo governo a assinatura do novo contrato de concessão.

Por Camila Maia