Resultado do A-6 surpreende, mesmo com a demanda ainda baixa
Representantes do segmento de pequenas hidrelétricas viram a participação no certame como um bom sinal de retomada da fonte
21/10/2019

CanalEnergfia - 18,10.2019 - Surpresa foi a palavra usada por representantes do setor para definir o resultado do Leilão A-6, marcado por maior diversidade de fontes contratadas e com uma quantidade de energia negociada ainda baixa, mas acima do previsto por agentes do mercado. O resultado do certame agradou especialmente investidores em empreendimentos de fonte hídrica, que viram com otimismo a entrada de mais de duas dezenas de pequenos projetos na lista de vencedores do certame.

No leilão realizado nesta sexta-feira, 18 de outubro, foram contratados 1.155 MW médios ao preço médio de R$ 176,09/MWh,  com deságio médio em relação aos preços de referência 33,73%. No total , 91 empreendimentos de fontes hidrelétricas, solar, eólica e termelétrica conseguiram vender energia às distribuidoras.

Para o presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e de Centrais Geradoras Hidrelétricas, Paulo Arbex, a quantidade de energia negociada no A-6 foi ainda pequena, mas surpreendeu, o que é um sinal positivo para o mercado. Ele disse que ficou satisfeito com a negociação de contratos de empreendimentos da fonte, depois de anos de participação aquém das expectativas dos empreendedores, e acredita que no ano que vem os investidores começarão a sentir os efeitos da retomada da economia.

“Está melhorando. Gostamos muito do sinal. Tomara que no próximo leilão tenhamos um volume grande [de contratação]”, disse o executivo. Para Arbex, a entrada das pequenas usinas representa “emprego e investimento na veia para a economia” e é necessário que essa política seja permanente.

O presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Charles Lenzi, também avaliou o resultado do A-6 como positivo, apesar do volume total contratado ainda baixo. Lenzi lembrou que a demanda foi pequena em razão da crise econômica que afeta o país, mas a contratação de 19 PCHs e seis CGHs foi significativa e importante dentro do contexto do leilão.

“O resultado desse leilão, somado ao resultado do leilão também realizado neste ano, o A-4, sinaliza uma contratação mais perene de empreendimentos e de projetos de centrais hidrelétricas de até 50 MW autorizadas. E isso reforça o nosso otimismo a respeito dessa fonte”, afirmou o executivo.

O resultado do certame foi melhor do que todo mundo esperava, na opinião do presidente da Associação Brasileira de Geradores Termelétricos, Xisto Vieira Filho. Ele pontuou que a demanda foi bem maior e, para a geração térmica em particular, o desfecho ficou bastante interessante porque ganharam três usinas a gás muito importantes: a de Barcarena, no Pará; outra no Parnaíba (fechamento do ciclo) e a terceira na Bahia. “Essas três térmicas aí foi muito bom o fato de elas terem vencido esse leilão em termos de segurança energética e elétrica”, observou o executivo, lembrando que a lista de vendedoras incluiu ainda térmicas a bagaço de cana.

Carlos Faria, presidente da Associação Nacional de Consumidores de Energia, considerou o A-6 surpreendente pelo volume de contratação acima do previsto no mercado, e também pelo grande número de projetos de PCHs e termelétricas a biomassa contratados. Isso é bom para a economia, observou. “Você está, com isso, movimentando fornecedores, fábricas que estão ligadas nessa cadeia de produção de PCHs e biomassa.”

O grande destaque, em sua avaliação, foi a contratação de termelétricas, principalmente a gás natural, já como efeito da criação do novo mercado do gás e da aposta pelos investidores em um produto mais barato e acessível. “Acho que a gente tem com isso energia firme. Vamos olhar agora do lado do consumidor. Nós precisamos de energia firme e de potência, e essas térmicas, PCHs e usinas a biomassa oferecem isso.”

Outra surpresa para o executivo da Anace foram os preços abaixo de R$ 100/MWh para projetos das fontes solar e eólica. Faria lembrou que houve aprimoramento das regras do certame a favor do consumidor,  com a mudança na sazonalização dos contratos dessas fontes. A transferência do risco desses contratos para o empreendedor provocou protestos dos geradores eólicos, mas o  leilão provou que a Aneel estava certa, afirmou Faria.

Em relação a solar, a surpresa foi os empreendedores terem conseguido manter o preço no patamar contratado, embora não tenha tido grande contratação. “Meu sentimento é de que eles querem estar presentes no mercado”, concluiu o dirigente. Ele disse que esta um pouco assustado com o que ainda pode acontecer com a regulação para os empreendimentos de geração distribuída e disse que a Anace está trabalhando para, se houver alguma mudança de regra, que ela seja a menor possível.

Sócio da área de energia do Veirano Advogados, Tiago Figueiró, disse que no geral os resultados do leilão foram bons, com uma pequena surpresa em relação à demanda de 1.155 MW médios, quando o mercado apostava em maio 800 ou 900 MW médios. O gás veio forte e concentrado no projeto da termelétrica de Barcarena (PA), enquanto as fontes solar fotovoltaica e eólica tiveram resultados mais modestos, refletindo um pouco as dificuldades resultantes das mudanças nas regras do leilão, especialmente na sazonalização dos contratos.

Projetos hídricos e a biomassa foram uma surpresa bem vinda, avalia Figueiró. Ele citou como exemplo de que é possível ter na disputa competidores com diferentes tamanhos a contratação de projeto com garantia física abaixo de 1 MW médio. Na avaliação do advogado, foi um leilão interessante e diferente.

Outro que admitiu surpresa com a demanda foi o consultor João Graminha Bordim, da Thymos Energia. A consultoria chegou a projetar uma negociação de 600 MW médios no certame.

Graminha considerou o resultado positivo e disse que ele demonstra o otimismo das distribuidoras em relação à retomada da economia. “Esse foi o grande ponto de atenção”, observou o especialista. Ele confessou, porém, que esperava preços menores para os projetos solar e eólicos e destacou a competição como um aspecto importante do leilão. O resultado foi bom para hidráulicas e térmicas a biomassa e a gás, onde uma única usina representou metade da total negociado.

Por Sueli Montenegro

Mercado exalta resultado do Leilão A-6, mas faz críticas ao modelo de contratação

Assim como o governo federal, o mercado também se mostrou positivamente surpreso com o Leilão de Energia A-6/2019 realizado nesta sexta-feira (18), cujo o resultado final irá viabilizar, ao longo dos próximos cinco anos, a instalação de 2.979 MW em 91 novos projetos de geração. Destaques na expansão da geração do setor elétrico brasileiro na última década, os segmentos de eólica e de solar comemoraram os números apurados em cada uma das suas áreas, destacando pontos como a competitividade apresentada pelas respectivas fontes e o potencial de crescimento indicado para as próximas licitações públicas, já a partir do ano de 2020.

No caso da eólica, os parques contratados somam capacidade de 1.040 MW e garantia física de 480 MWmédios – números impensáveis dentro das projeções feitas internamente pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) até 15 dias atrás. A expectativa da entidade era de um resultado “pífio”, fruto de uma expectativa de demanda reprimida em função, principalmente, da baixa atividade econômica do país. “Em tempos de PIB baixo, esse resultado surpreendeu. Foi realmente muito bom e não apenas para a eólica, já que houve uma boa distribuição entre todas as fontes participantes”, avalia Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica.

Apesar de não manter a média de contratação de anos recentes no Ambiente de Contratação Regulada, que já chegou a 2 GW em 2015 e ficou em 1,4 GW em 2017, o Leilão A-6 de 2019 reforça, na visão da executiva, a importância do Ambiente de Contratação Livre para a expansão da eólica hoje, na medida em que 70% da energia dos parques são negociados no mercado livre. De acordo com Elbia, o volume contratado no ACL vai superar os 2 GW esse ano, assim como ocorreu em 2018. Na visão dela, esse fato representa uma nova lógica de contratação, que exigirá uma nova maneira de projetar a expansão da geração no mercado brasileiro.

Solar com críticas - Fonte mais competitiva do certame, com 530 MW de potência nominal negociados e 163 MW médios de garantia física contratados, a solar sai fortalecida de sua primeira participação em um leilão do tipo A-6, apresentando o menor preço médio de venda entre todas as fontes participantes, incluindo eólica, hídrica, gás natural e biomassa. O valor final médio ficou em R$ 84,39/MWh, equivalente a um deságio de 59,6% em relação ao preço inicial. A previsão da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica é que de 50% a 70% da produção total desses projetos sejam negociados no mercado livre a um valor mais alto, equilibrando o preço final da energia dessas usinas.

Apesar do resultado final positivo para a fonte, o presidente da associação, Rodrigo Sauaia, faz críticas ao baixo volume de energia contratada. “Vimos que a solar fotovoltaica se colocou em pé de igualdade com a fonte eólica nesse leilão no que diz respeito ao preço, embora o governo tenha optado por contratar muito mais projetos de geração eólica do que solar. Por que isso? Qual o critério adotado pelo governo federal para contratar muito mais uma do que outra, se as duas estão em condições de equilíbrio? Do ponto de vista de mercado, nos decepcionou o volume de contratação baixo para uma fonte tão competitiva para o consumidor”, aponta Sauaia.

Biomassa quer espaço - O segmento de biomassa endossa as críticas da área solar quanto ao modelo de contratação e ao espaço dado para a sua fonte nos leilões públicos promovidos pelo governo. Com apenas seis projetos de biomassa negociados e 69,5 MWmédios comercializados, a um preço médio de R$ 187,90/MWh, a Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) avalia que o resultado acaba evidenciando um subaproveitamento da biomassa, que poderia vender muito mais energia se a fonte estivesse em uma modalidade de produto separada das demais. A entidade sinaliza que esta é uma das demandas defendidas pela Cogen junto a órgãos do Executivo.

“A expansão da matriz elétrica poderia ser mais determinística em vez de indicativa, valorizando as externalidades das fontes. A biomassa tem alta eficiência energética, é uma energia limpa que estimula uma economia circular e tem a vantagem de produzir energia próxima do centro de carga, ajudando a poupar água nos reservatórios das hidrelétricas. O setor tem potencial para vender muito mais. Certamente, se tivermos uma sinalização positiva para a biomassa, nos próximos leilões o número de inscritos certamente será maior que os 25 projetos cadastrados neste leilão”, afirma Leonardo Caio Filho, diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen.

Na mesma linha, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar defende ajustes nos leilões, de forma a propiciar mais espaço para fontes que se mostram competitivas. Zilmar de Souza, gerante de Bioeletricidade da Unica, afirma que “o resultado de hoje mostra que o setor sucroenergético pode responder rapidamente de forma positiva nos leilões regulados, mas é necessário criar condições mais perenes para atrair o investimento em bioeletricidade nos certames promovidos pelo governo federal”. Entre as medidas, dedicar parte da demanda para produtos específicos de biomassa e biogás e permitir que elas participem dos Leilões de Energia Existente A-4 a A-5.

Por Oldon Machado