AES Tietê confia no "bom senso" do Senado sobre GSF
APINE NA MÍDIA - Apesar da pendência do GSF, empresa segue com apostas na ampliação do parque gerador e na oferta de soluções mirando a migração de consumidores para o mercado livre
23/01/2020

Valor Econômico - 22.01.2020 - Uma das maiores geradoras do país, a AES Tietê está confiante que 2020 trará, finalmente, uma solução para sua principal dor de cabeça: a judicialização do risco hidrológico (GSF), que já causa inadimplência de quase R$ 8 bilhões no mercado de curto prazo de energia. Ao Valor, o presidente da companhia, Ítalo Freitas, disse acreditar no “bom senso” do Legislativo para dar a resposta final a esse imbróglio - que, brinca ele, se tornou um “Drácula” e há anos vem “sugando” as energias do setor elétrico. Mas, enquanto o tema não é destravado, a AES Tietê segue com as apostas na ampliação do parque gerador renovável e na oferta de soluções digitais para fazer frente à migração de consumidores para o mercado livre de energia.

O impasse do risco hidrológico, que domina as preocupações das geradoras de energia, tem uma solução parada no Senado desde setembro do ano passado. O Projeto de Lei nº 3975/2019 “emperrou” num momento considerado decisivo, decepcionando o mercado. O texto já passou pela Câmara e retornou aos senadores para nova aprovação depois de ter sofrido alterações. Para o presidente da AES Tietê, não há mais grandes dúvidas a serem esclarecidas sobre o assunto, que foi debatido à exaustão durante anos. “O Senado tem que tirar esse legado [do GSF] da frente e focar todos os esforços na modernização do setor elétrico, projeto que vai muito gerar emprego e eficiência”, defende.

O GSF é a sigla para a relação entre o volume de energia previsto para ser produzido pelas hidrelétricas e o de fato fornecido por elas - que hoje está deficitária. A energia vendida e não gerada pelas hidrelétricas virou uma exposição no mercado de curto prazo. Em 2019, a conta em aberto atingiu R$ 7,9 bilhões, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Por entenderem que parte do déficit do GSF foi causado por fatores alheios às suas operações, as geradoras buscaram a Justiça e conseguiram liminares para não pagar essa exposição.

A AES Tietê está protegida por uma liminar conquistada pela Associação dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine). Até setembro de 2019, a empresa acumulava um passivo de quase R$ 1,1 bilhão relacionado a essa liminar. Enquanto a judicialização e os desembolsos não se resolvem, a geradora mantém reservas em caixa.

Paralelamente à discussão do GSF, a AES Tietê continua dedicada à meta de diversificar o portfólio de geração, antes muito concentrado na fonte hidráulica. No momento, um dos principais focos é conquistar clientes para o seu novo empreendimento eólico na Bahia. Batizado de “Projeto Tucano”, o complexo deverá ser erguido a partir de 2021 em região próxima ao Alto Sertão II, também da AES Tietê, com o qual formará um “cluster” eólico. O projeto terá cerca de 580 megawatts (MW) de capacidade instalada e já tem dois contratos fechados: um com a Unipar Carbocloro, envolvendo 155 MW, e outro com a Anglo American Níquel Brasil, com 167 MW. A expectativa é contratar o restante da capacidade ainda neste ano.

Sobre potenciais aquisições, Freitas reitera que a companhia está constantemente buscando ativos que possam agregar eficiência ao seu portfólio, mas avalia que a janela de oportunidades está “acabando”. Segundo o executivo, a AES Tietê está analisando alguns projetos, sobretudo no segmento eólico, mas o parque Alto Sertão III, da Renova Energia, não é mais uma possibilidade. As negociações “sem fim” sobre o ativo se encerraram definitivamente em outubro, afirma.

Em outra frente, a companhia vem aproveitando sua experiência para assessorar empresas interessadas em migrar para o mercado livre. Os serviços ofertados envolvem atividades de gestão, como a definição de estratégia para contratação de energia. Criada há três anos, a área ainda é pequena diante dos negócios de geração da AES Tietê, mas apresenta grande potencial de crescimento, aponta Freitas. “Antes, não havia tanto acesso à informação, a migração para o mercado livre era muito mais obscura. Hoje, recebemos aqui clientes que nunca imaginaríamos que gostariam de migrar”.

Com olhos voltados ao mercado livre, a AES Tietê não prevê participar de leilões do mercado regulado, ainda que não descarte a opção. Também não estão no radar privatizações de elétricas estatais, como a CEEE-GT, do Rio Grande do Sul.

Por Letícia Fucuchima