Crise hídrica se agrava e risco de racionamento volta a rondar setor elétrico
Governo trabalha com todos os cenários, até mesmo o regime de racionamento, segundo fonte
28/05/2021

Valor Econômico - A crise hídrica que atinge em cheio o setor elétrico tem se agravado e autoridades do governo já consideram a necessidade de criar um “comitê de crise” para pensar estratégias que possam afastar o risco de corte de carga (blecaute) por déficit na oferta de energia pelo sistema brasileiro.

Fontes oficiais ouvidas pelo Valor informaram que o assunto dominou a reunião de ontem do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). O comunicado oficial, divulgado após o encontro, reconhece que o setor enfrentou o pior regime de chuvas, entre setembro e maio, em 91 anos. Porém, não trouxe detalhes sobre o que precisará ser feito para evitar uma crise de abastecimento.

A fonte oficial afirmou que o governo trabalha com todos os cenários, até mesmo o regime de racionamento. Esta foi a saída traumática adotada em 2001 que marcou o fim do governo tucano.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já deverá destacar uma equipe técnica, a partir da próxima segunda-feira, para trabalhar as estratégias de forma reservada. Como medida mais extrema, poderá ser adotado não só um racionamento de energia, mas também de água para poupar os reservatórios das hidrelétricas. A restrição no consumo poderia começar em julho, de forma pontual e não para todos os Estados.

Outras medidas drásticas também são consideradas, tais como suspender a emissão de autorização para irrigantes.

Autoridades do setor dizem que o ministro Bento Albuquerque ficou irritado ao ser surpreendido sobre a gravidade da crise, que pode não ser contornada com o acionamento de térmicas. A pressão recai sobre o Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável por monitorar a situação.

Para evitar desgaste político, o governo deve apontar ineficiência do sistema causada pela medida provisória (MP 579/12), da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas alguns integrantes do governo admitem que muito tempo se passou e uma solução já poderia ter sido buscada. O ministro do TCU Benjamin Zymler determinou que o risco de blecaute seja acompanhado pela unidade técnica (Seinfraelétrica). Procurado, o Ministério de Minas e Energia disse que se pronunciaria com a nota do CMSE.

Por Rafael Walendorff e Rafael Bitencourt