CCEE teme efeitos da crise hídrica sobre mercado
A preocupação não é com um eventual apagão, mas com um possível desequilíbrio do mercado devido ao aumento da exposição dos agentes a preços elevados
16/08/2021

Valor Econômico - O presidente do conselho de administração da Câmara de Comercialização de energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri, afirmou que a preocupação maior, hoje, não é com um eventual apagão de energia no país, mas com um possível desequilíbrio do mercado devido ao aumento da exposição dos agentes aos elevados preços de energia de curto prazo.

“A preocupação maior nossa na Câmara de Comercialização não é com o atendimento físico, com o abastecimento de energia Elétrica, mas com os rebatimentos comerciais... Quando o preço fica por longos períodos no piso ou no teto, enfrentamos dificuldades comerciais. Nossa expectativa é que desde julho até o fim do ano, o preço fique próximo ou no limite superior da nossa faixa. Isso causa preocupações, são momentos de atenção”, afirmou.

Altieri, em participação na Live do Valor de sexta-feira. Segundo ele, indícios de dificuldades por parte das comercializadoras em cumprir contatos estão sendo monitorados pela CCEE. Até agora, no entanto, o cenário é de normalidade nas contabilizações da Câmara. Os dados de inadimplência de julho estão em fase final de consolidação. Altieri citou as recentes declarações do ministro de Minas e energia, Bento Albuquerque, de que não há riscos de desabastecimento até o fim do período seco, e disse que ainda é cedo para se fazer qualquer projeção sobre o cenário de hidrologia para 2022.

O executivo acredita que, se a hidrologia durante o regime úmido for tão ruim quanto a deste ano, serão necessárias “medidas adicionais” de importação de energia, contratação de excedentes de geração de biomassa e programas de redução voluntária do consumo dos grandes consumidores. Se o regime de chuvas ocorrer dentro da média ou um pouco abaixo dela, segundo ele, o cenário será de tranquilidade.

Altieri afirmou ainda que só será possível de ser feita uma previsão melhor sobre o regime de chuvas do próximo período úmido entre outubro e novembro.

“O problema a ser enfrentado agora é chegarmos com tranquilidade e com menores custos possíveis em novembro. A partir daí, é aguardar o período úmido... Talvez as medidas que estejamos tomando agora, se tiver um período úmido muito ruim, elas não sejam descartadas e continuemos operando com todo o parque térmico”, disse.

Altieri comentou também sobre as perspectivas para o leilão de reserva de capacidade, que visa a aumentar a segurança do sistema elétrico nacional. O presidente da CCEE acredita que a licitação, prevista para dezembro, terá preços atrativos e que a expectativa para a concorrência é “muito boa”. “Será um certame muito forte, com uma competição muito forte”, afirmou.

Para os próximos anos, completou, questões como a renovação da contratação de energia de Itaipu e o processo de descotização (mudança no regime de comercialização) das Usinas da Eletrobras poderão ter efeito direto sobre o ritmo de contratação de energia nova. Ainda de acordo com Altieri, a privatização da estatal elétrica não será determinante para reduzir ou aumentar os preços de energia do país.

“Se o preço da energia vai subir ou cair, depende do mercado, não da privatização da Eletrobras. Depende dos movimentos naturais do mercado”, comentou.