Parques eólicos offshore são nova fronteira para gerar energia
Marco regulatório foi anunciado em janeiro, mas 130 GW em projetos já foram apresentados ao Ibama
30/06/2022

Valor Econômico - Em dezembro de 2009, quando o governo federal realizou um leilão de reserva de contratação de energia eólica, muitos olharam com desdém a nova fonte que começava a ganhar espaço na matriz. Pouco mais de uma década depois, a fonte se tornou a segunda da matriz elétrica, com mais de 21 GW instalados e cerca de 12% da energia gerada no país. Em 6 de agosto de 2021, em plena crise hídrica, 99% da geração do Nordeste foi provida pelas usinas eólicas. O fator de capacidade no Brasil está em 40%, acima dos 34% da média mundial, mas em vários momentos no Nordeste ele chega perto de 60%.
 
Todos esses números se referem a projetos terrestres, boa parte deles implementados no litoral das regiões Nordeste e Sul. A força dos ventos na matriz brasileira poderá soprar ainda mais por conta de uma tecnologia ainda incipiente no país: as usinas eólicas offshore (alto-mar). “A eólica offshore desponta como uma nova alternativa de geração, que inclusive deverá viabilizar a produção de hidrogênio verde no Brasil e fazer com que o país ganhe destaque nessa área", diz Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica).
 
De acordo com a WoodMac, os custos de produção da energia eólica offshore já caíram 50% entre 2015 e 2020 e devem se tornar cada vez mais competitivos. Segundo dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis, com ventos mais regulares, os projetos offshore têm observado em diferentes regiões fator de capacidade médio de 41%, superiores aos projetos em terra com 36% de média.
 
Com um potencial estimado em 700 GW de capacidade, esse segmento teve seu primeiro marco regulatório anunciado em janeiro, com a divulgação do decreto nº 10.946, em vigência desde 15 de junho. Agora o governo federal trabalha em uma portaria para detalhar as regras, enquanto no Congresso um projeto de lei busca criar o ordenamento jurídico chancelado pelos parlamentares. A primeira contratação de projetos poderá ser feita em 2023 a partir de um leilão de reserva.
 
Os movimentos já têm feito mais de 130 GW de projetos chegarem ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Estamos trabalhando com sugestões recebidas com os agentes para reforçar o quadro regulatório”, disse a assessora técnica do departamento de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia, Karina Souza. “Essa é uma tecnologia que estamos de olho, mas ela ainda leva um certo tempo, as eólicas em terra têm uma competitividade grande no Brasil”, analisa Bernardo Sacic, diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da AES Brasil.
 
Boa parte dos investimentos deve ser impulsionada a partir do fim da década e início da próxima. Isso tem atraído grandes petroleiras como a Shell e novas empresas no Brasil como a Ocean Winds, joint venture entre a EDP Renováveis e a Engie, que lançou recentemente no Brasil a OW Brasil. A empresa já começou a licenciar cinco novos projetos eólicos offshore com uma capacidade total de 15 GW nos estados do Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A OW está buscando autorizações para a licença ambiental para os seguintes projetos: Vento Tupi (1 GW), Maral (2 GW), Ventos do Atlântico (5 GW), Tramandaí offshore (700 MW), e Ventos do Sul (6,5 GW).
 
“Em um primeiro momento vai ser mais caro no Brasil, porque não temos cadeia de fornecimento. Vamos precisar de escala para nos tornar competitivos”, afirma o diretor de desenvolvimento de novos negócios da Ocean Winds (OW), José Partida.
 
O desenvolvimento das eólicas offshore poderá ocorrer ao longo da costa brasileira, do Sul ao Nordeste. Uma diferença com as usinas em terra é que o Sudeste também terá papel relevante, uma vez que as petroleiras que exploram óleo na bacia de Santos e Campos e do Espírito Santo poderão desenvolver projetos eólicos marítimos. Muitas dessas empresas têm metas de redução de emissão de poluentes globais. Também empresas que já mantêm parques no Nordeste poderão se interessar em investir no Sudeste, para ter exposição a ventos diferentes.

Por Roberto Rockmann