Eletrobras será líder em ‘renovável’, diz Ferreira Jr.
Wilson Ferreira Jr., recém-eleito pelo novo conselho de administração, assumirá a presidência da Eletrobras quando concluída a transição do comando da Vibra
08/08/2022

Valor Econômico - A Eletrobras tem potencial de ser uma das maiores empresas de energia renovável do mundo, avalia Wilson Ferreira Jr., recém-eleito pelo novo conselho de administração para presidir a companhia. Para isso, um dos seus maiores desafios vai ser o de demonstrar que a privatização da maior empresa de geração e transmissão do país foi uma medida certa e gerará valor para o acionista e para todos os públicos, afirmou o executivo ao Valor, na sua primeira entrevista após a votação.

Ferreira Jr não vai assumir a Eletrobras imediatamente. Ele vai concluir a transição do comando da Vibra, que já contratou uma empresa de “headhunter” para a escolha de seu sucessor, “que seja [uma pessoa] capaz de continuar esse trabalho que eu liderei”. Ele deve ficar na Vibra até meados de setembro, quando deve ser empossado na Eletrobras. “Mas espero estar me voltando ao grupo [Eletrobras] o mais breve possível.”

À frente da Vibra Energia desde fevereiro de 2021, ele promoveu uma mudança radical no perfil da companhia, antiga BR Distribuidora, com a criação de uma plataforma multienergia que nos próximos dias vai se tornar completa, com o anúncio de uma operação ligada à atividade de gás natural liquefeito (GNL). Essa plataforma foi formada com a aquisição de empresas que tornaram a Vibra “a maior em seus segmentos de atuação”. Compras de empresas ou formação de joint-ventures nos segmentos de etanol, comercialização de eletricidade, serviços de conveniência para clientes, e biometano, entre outros, mudaram rapidamente o perfil da Vibra, dentro de um plano de ser uma empresa que vai além da distribuição de combustíveis.

“Tomei a decisão de reassumir a Eletrobras porque há espaço para avançar em inovação e digitalização”, diz Jr.
Ferreira Jr. ressaltou que, tendo consciência de que “mesmo depois de ter feito muito mais do que imaginava” na Vibra, da qual gosta muito de dirigir, ele tomou a decisão de reassumir a Eletrobras porque ainda vê espaço para promover movimentos semelhantes na companhia, baseado nos pilares da modernização, inovação e digitalização. “Eu achava que a Vibra Energia seria meu último emprego, como executivo.

Numa rápida revisão de sua passagem pela Vibra, Ferreira Jr. destacou três pontos que considera importantes: a conclusão da reestruturação da empresa, a criação da plataforma multienergia, e a elaboração de uma estratégia focada em aspectos ESG. No caso da Eletrobras, o executivo deu a pista dos primeiros passos quando assumir, ao resgatar o planejamento estratégico com horizonte até 2035, com olhar para o crescimento da companhia, sem a preocupação com a alavancagem, que marcou parte de sua primeira passagem.

Para o executivo, a trajetória da Eletrobras será desenhada com a participação do conselho de administração. Porém, avalia, o olhar deve ser direcionado para a busca de espaços que possam promover esse crescimento, que pode ser por dois caminhos: o orgânico, no qual a empresa vence leilões de energia ou de transmissão, pelo “M&A”, sigla em inglês para fusões e aquisições. Reiterando que ainda tem compromissos a cumprir na Vibra e que qualquer iniciativa passará por debates pelo conselho de administração - “muito experiente” - o executivo destacou que o objetivo é buscar o que existe de melhor, com melhores práticas ESG.

O executivo foi eleito como presidente da companhia na primeira reunião do novo conselho de administração da Eletrobras, realizada na sequência da AGE que aprovou a chapa única indicada para o colegiado. Os conselheiros também elegeram Ivan Monteiro, ex-presidente da Petrobras, para o cargo de presidente do conselho de administração. No Credit Suisse, onde até então era co-CEO no Brasil, Monteiro passou a chairman das áreas de banco de investimento e wealth management.

O “board” elegeu os novos membros dos comitês da empresa: Estratégia, Governança e Sustentabilidade (CEGS) e Pessoas, Elegibilidade, Sucessão e Remuneração (CEPS), compostos basicamente por conselheiros de administração. O Comitê de Auditoria e Riscos Estatutário (CAE) permaneceu com os mesmos membros anteriores. "Não é apenas mudar o topo da empresa, tem toda uma cultura a ser trabalhada de uma companhia que era uma estatal", disse uma fonte ao Valor.

Sobre a diretoria executiva, o Valor apurou que a princípio não deve ocorrer mudanças no atual quadro. No entanto, três nomes são praticamente confirmados em seus respectivos cargos, informaram fontes a par do tema. Seriam a diretora financeira e de relações com investidores, Elvira Cavalcanti Presta, a diretora de governança, riscos e conformidade, Camila Gualda Sampaio Araújo, e o atual presidente, Rodrigo Limp, que permanece na diretoria de regulação e relações institucionais, a qual acumula com o cargo de CEO.

O conselho da Eletrobras passará a trabalhar sobre o plano de médio e longo prazos estabelecidos para a empresa. “A prioridade é olhar para os resultados do trimestre, mas a preocupação principal é com os próximos anos”, completou a fonte.

Além de Monteiro, a AGE aprovou os nomes de Carlos Augusto Leone Piani, ex-presidente da Equatorial; Marisete Pereira, ex-secretária-executiva do Ministério de Minas e Energia (MME); e Octavio Cortes Pereira Lopes, ex-presidente da varejista Tok&Stok e ex-conselheiro da Light.

A posse de Piani, entretanto, está condicionada à renúncia do executivo a assentos nos conselhos da Equatorial e Vibra, informaram fontes. Na quarta-feira, ele enviou carta à companhia segundo a qual se comprometia a renunciar aos respectivos postos caso fosse eleito conselheiro da Eletrobras, a fim de afastar eventuais conflitos de interesses. Retornam ao conselho o especialista em gestão Vicente Falconi, que havia sido conselheiro e renunciou ao cargo em julho de 2020, e do advogado Marcelo Gasparino, atuante em conselhos de várias empresas, que ocupou assento no conselho da Eletrobras entre 2012 e 2014 e em 2016.

Três conselheiros da gestão estatal foram reconduzidos para novo mandato: Daniel Alves Ferreira, Felipe Villela Dias e Marcelo de Siqueira Freitas. Pedro Batista foi eleito em separado para o conselho de administração por ter sido indicado pelos acionistas preferencialistas. Todos eles se juntam a Carlos Eduardo Rodrigues Pereira, representante dos empregados, que permaneceu no cargo. Os acionistas aprovaram proposta de mandato unificado do conselho de administração, excepcionalmente, até assembleia geral ordinária que ocorrerá em 2025.

A duração estendida do mandato foi aprovada a fim de permitir melhor transição do modelo estatal para uma “corporation”.