Associações de energia renovável se unem para promover hidrogênio verde
Entre ações do Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável, assinado por Abeeólica, Absolar, Abiogás e AHK Rio, estão estudos, seminários e road shows
12/05/2023

Valor Econômico - 08.05.2023 | Quatro associações brasileiras que representam empresas que atuam no setor de energia renovável se uniram para trabalhar em conjunto na pauta do hidrogênio verde. Assinaram oficialmente um acordo de cooperação na última sexta (5) a Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), a Associação Brasileira do Biogás (ABIOGÁS) e a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio). O acordo foi chamado de Pacto Brasileiro pelo Hidrogênio Renovável.

O hidrogênio renovável ou verde é o produto do processo de hidrólise da água feito a partir de energia limpa (solar, eólica e biogás, por exemplo). Segundo estudo recente produzido pela consultoria BCG e publicado pelo Prática ESG, a atividade demandará, no mundo, entre US$ 6 trilhões a US$ 12 trilhões entre 2025 e 2050 para atender a demanda de governos e companhias que se comprometem com a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

O valor, que consta no estudo Building the Green Hydrogen Economy, se refere ao dinheiro necessário para construção de infraestrutura de produção (o processo é chamado de hidrólise e exige uma alta carga de energia elétrica), armazenamento e transporte.

Hoje, a demanda por hidrogênio é baixa, de 94 milhões de toneladas em 2021, e a maior parte é produzida a partir de fontes fósseis, geralmente gás natural, de acordo com o relatório. A estimativa é que a demanda até 2050 seja de cerca de 350 milhões a 530 milhões de toneladas por ano.

Entre as ações do Pacto está a participação das entidades nas discussões sobre o arcabouço regulatório para o mercado de hidrogênio verde, o desenvolvimento das formas de aplicação da tecnologia nos diversos setores econômicos, e disseminar as oportunidades de hidrogênio renovável aos seus associados e à sociedade brasileira, entre outras.

Para isso, a proposta é ter grupos de trabalho para discussão, participar de comissões técnicas, participar de e promover eventos debates, seminários, palestras e “road shows”, publicar estudos, estimular o investimento na área, e outras ações e projetos técnicos que identifiquem como necessários.

“Vetor energético e combustível primário, limpo e versátil, o hidrogênio renovável tem potencial para se tornar eixo estratégico na transição energética e descarbonização dos setores produtivos, de diversos segmentos. Além de sustentável, pode ser utilizado em diversas aplicações, reduzindo drasticamente as emissões de gases de efeito estufa de setores de difícil descarbonização, tais como: fertilizantes nitrogenados, mineração, siderurgia, produção de metanol, de aço, transporte aéreo, marítimo e terrestre de veículos pesados, entre outros”, destacam as entidades no material de divulgação do Pacto à imprensa.

A aposta é a do Brasil ter um potencial grande de produção por já ter um setor de energia renovável desenvolvido. Segundo estudo da consultoria Mckinsey, o País poderá instalar uma nova matriz elétrica inteira até 2040, destinada à produção do H2R, trazendo cerca de R$ 1 trilhão em novos investimentos no período. Estes investimentos serão destinados à geração de eletricidade, novas linhas de transmissão e mais unidades fabris do combustível limpo e de estruturas associadas, incluindo terminais portuários, dutos e armazenagem.

Com isso, indústrias que usam como fonte de aquecimento o hidrogênio verde podem também sair na frente na competição mundial por produtos menos poluentes, uma vez que boa parte das emissões vêm da queima de combustíveis fósseis na produção industrial. Além disso, os representantes das entidades comentam que o país pode se tornar um líder global na produção, consumo e exportação do combustível limpo em si, mas que, de acordo com Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Absolar, é necessário desenvolver políticas públicas, programas e incentivos adequados, como o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), do Governo Federal, para esse potencial do país ser destravado.

Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica lembra ainda que já há projetos estratégicos em andamento, como planta piloto de hidrogênio verde no Complexo do Pecém, inaugurada em janeiro deste ano pela EDP Brasil e o primeiro projeto em escala industrial no país que está sendo desenvolvido pela UNIGEL e deve ter a primeira fase em operação comercial no final deste ano.

Outro exemplo é o trabalho que a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), empresa especializada em projetos de cooperação técnica e desenvolvimento sustentável, já desenvolve desde 2021, em parceria com o Ministério de Minas e Energia (MME). Chamado de H2Brasil, ele prevê investimentos totais de 34 milhões de euros para apoiar a expansão do mercado de hidrogênio, que inclui montagem de laboratórios em universidades, incentivo à pesquisa, entre outras iniciativas.

Por Naiara Bertão