Cemig cria plataforma para atrair cliente livre
Empresa mira consumidores com carga de energia de 0,5 MW, que podem migrar para o mercado livre a partir de janeiro de 2024
21/06/2023

Valor Econômico - 21.06.2023 | A Cemig lançou uma plataforma de e-commerce de olho em consumidores de eletricidade conectados em redes de alta tensão com carga abaixo de 0,5 megawatt (MW), que estarão livres para escolher o fornecedor de energia a partir do ano que vem. O objetivo da companhia é prospectar clientes que pretendam migrar para o mercado livre.

A partir de janeiro de 2024, clientes em alta tensão do porte de pequenos comércios, shoppings, hotéis, supermercados e lojas de departamentos podem migrar para o mercado livre, segmento que permite a escolha da geradora da energia, em busca de economia de até 35% nas contas de luz em comparação com os clientes da distribuidora.

Pelas regras do setor elétrico, consumidores devem avisar à distribuidora com seis meses de antecedência que migrarão para o mercado livre. Com a plataforma a empresa busca se antecipar à movimentação deste perfil de consumo, afirmou Dimas Costa, diretor de comercialização da Cemig. “Nós nos preparamos com uma plataforma digital muito forte”, disse Costa. A meta da Cemig para a plataforma é atender até 50 mil clientes com carga de até 0,5 MW, de um potencial estimado de 160 mil unidades consumidoras que se enquadrariam numa possível migração. A Cemig hoje tem cerca de 5 mil clientes com este perfil.

Como a carga é considerada baixa para os padrões do mercado livre, esses clientes são obrigados a contratar uma comercializadora varejista, um agente que intermedia a compra da energia e os representa na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). No mercado livre, cada cliente deve se registrar na CCEE. Com a comercializadora varejista, a CCEE não precisa se relacionar com todos os consumidores de pequena carga, mas com o agente que os representa.

A plataforma permite que o consumidor possa simular a economia de energia e, caso opte por migrar para o mercado livre, assine no próprio ambiente de e-commerce o contrato de adesão, de forma digital. A Cemig pretende fazer um amplo trabalho de divulgação, inclusive em entidades setoriais, como parte do processo de prospecção, conta Costa.

Os consumidores com carga até 0,5 MW são o último grupo conectado em alta tensão liberado para migração. Após esse perfil, o setor elétrico espera a liberação para que consumidores da baixa tensão possam migrar para o mercado livre, o que é esperado para acontecer a partir de 2026, caso seja regulamentada a abertura do mercado livre.
Em paralelo, a Cemig vem aproveitando o momento de preços baixos da energia, causados pelo alto nível de armazenamento dos reservatórios das hidrelétricas, para aumentar a receita. A estratégia, disse Costa, é a seguinte: a Cemig aproveitou preços ainda elevados a partir do ano passado para vender toda a energia das usinas da companhia. Agora, com a eletricidade mais barata, a empresa vem comprando energia mais barata no mercado e vendendo para clientes em operações de reposição de energia.

“Isso vai incrementar demais nossa receita de comercialização entre 2023 e 2025”, afirmou o executivo. Para a partir de 2026, ressaltou, a Cemig enxerga um problema de sobra estrutural de eletricidade, que deve perdurar por pelo menos cinco anos.

Essa grande sobra de energia, da ordem de 25% do total do mercado, é resultado de dois períodos consecutivos de chuvas abundantes e de uma grande oferta de eletricidade nova nos últimos anos, fatores que se somam a uma carga que não cresce expressivamente. Isso fez com que a companhia colocasse o pé no freio nos investimentos em novas usinas. “Eu acredito que isso vai perdurar até o fim desta década”, avalia Costa.