ONS aponta 'desempenho abaixo do esperado' de geradores próximos a linha que originou apagão
Estudo aponta que a segunda causa do apagão de 15 de agosto desencadeou todo o processo de desligamentos
28/08/2023

Valor Econômico - 27.08.2023 | O segundo evento que foi apontado inicialmente pelas autoridades do setor elétrico como uma das causas do apagão de 15 de agosto foi um desempenho abaixo do esperado de parques geradores localizados próximos à linha de transmissão Quixadá II – Fortaleza II, para fins de controle de tensão, informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em comunicado, na sexta-feira (25).

Segundo o ONS, a linha de investigação "mais consistente" aponta esse desempenho abaixo do esperado como um segundo evento que, afirma o operador, desencadeou todo o processo de desligamentos que aconteceram em seguida.

O chamado "evento zero" do apagão foi o desligamento da linha de transmissão Quixadá II – Fortaleza II, da Chesf, subsidiária da Eletrobras. No dia do apagão, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou em entrevista coletiva que o desligamento teria sido causado a partir da linha da Chesf e que um segundo evento em um outro ponto da rede estava sob apuração, mas não havia informado qual seria o local.

No entanto, o chamado segundo evento foi descartado. As suspeitas inicialmente giravam em torno de uma das duas linhas de transmissão de longa distância que escoam a energia da hidrelétrica de Belo Monte, mas as análises iniciais logo descartaram esta hipótese.

Em nota, o ONS afirmou que nas simulações realizadas com os parâmetros enviados pelos agentes na entrada em operação das usinas não foi possível reproduzir a "perturbação". "Em todos os testes realizados com esses dados não foi observada redução de tensão que viole os Procedimentos de Rede, como a que ocorreu após o desligamento da LT 500 kV Quixadá – Fortaleza II", disse o ONS.

Procedimentos de Rede são uma série de regras estabelecidas pelo ONS para coordenação e controle da geração e transmissão de eletricidade no sistema nacional. O operador afirmou que somente com as informações recebidas dos agentes após o apagão pôde reproduzir, na simulação, a "perturbação". De acordo com o ONS, a partir das novas informações, realizou uma "análise minuciosa da sequência de eventos". Testou ainda múltiplos cenários, que apresentaram sinais de que o desempenho dos equipamentos que foi informado pelos agentes antes do apagão era diferente do que era verificado em campo.

"Importante destacar que o problema identificado não tem relação direta com o tipo de fonte geradora", disse o ONS no comunicado. O ONS afirmou ainda que, dada a "complexidade do evento", permanece aprofundando as análises do apagão.

O ONS realizou a primeira reunião para a elaboração do Relatório de Análise de Perturbação (RAP), na qual apresentou análises preliminares aos agentes participantes do encontro. É a segunda avaliação do ONS sobre o tema desde o apagão que afetou quase todos os Estados do país e o Distrito Federal por um período de até quase sete horas, interrompendo mais de 22 mil megawatts (MW) de carga.

No dia 16 de agosto, dia seguinte ao apagão, o ONS afirmou em nota que o desligamento "refletiu desproporcionalmente em equipamentos adjacentes e ocasionou oscilações elétricas (tensão e frequência) no sistema das regiões Norte e Nordeste". No documento chamado "Informe Preliminar de Interrupção de Energia no Sistema Interligado Nacional" (IPIE), o ONS fala em "afundamento brusco de tensão".

Por Fábio Couto