Brookfield vai investir R$ 1,2 bilhão em geração distribuída
Canadense compra IVI Energia e construirá usinas para consumidor de menor porte
15/12/2023

Valor Econômico - 11.12.2023 | A Brookfield vai investir R$ 1,2 bilhão na formação de um parque gerador de 300 megawatts-pico (MWp) de capacidade solar em 12 meses. A estreia da gestora canadense em geração distribuída (GD), que é gerada próxima ao local de consumo, se deu com a aquisição do controle da IVI Energia, por valor não informado, e continua agora com a construção das futuras usinas.

Os recursos aportados no projeto fazem parte do Brookfield Global Transition Fund (BGTF), fundo que captou US$ 15 bilhões no maior capital privado já levantado para apoiar a transição energética no mundo. Ao todo, serão mais de 100 pequenas usinas espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio Grande do Norte.

Com o negócio, a Brookfield passa a deter 90% da IVI Energia e o restante continuará nas mãos do fundador da empresa e atual CEO, Chris Sattler. O pipeline de projetos e a estrutura organizacional da IVI Energia atraiu a Brookfield, que tem o capital necessário para desenvolver os projetos. Para o diretor da área de energia renovável e transição da gestora, André Flores, a melhor estratégia foi entrar nesse segmento por meio de uma empresa já estabelecida no mercado, em vez de criar uma estrutura do zero.

Na primeira tranche de projetos, estão sendo construídas 23 usinas que totalizam 60 MWp com previsão de entrar em operação até o fim do ano. “Já fizemos a compra de equipamentos para o segundo lote, que somado ao primeiro, representará aproximadamente 150 MWp, e deverá ficar pronto até abril de 2024. No negócio, contudo, o pipeline acordado foi de 300 MWp”, diz Flores.

De acordo com o executivo, o fundo já está realizando aportes, sendo que os primeiros desembolsos foram direcionados à aquisição da IVI, compra de equipamentos solares e a construção das primeiras instalações. Os demais empreendimentos serão financiados tanto com recursos próprios quanto por meio de financiamento externo. “A gente espera uma alavancagem desses projetos, a depender das condições de mercado, entre 40% e 60%”, acrescenta.

A nova empresa controlada pelos canadenses busca mais 200 MW em novos projetos, que podem já estar em operação ou ainda em fase de construção. O objetivo é chegar a um total de 500 MW. A pressa em colocar um volume tão grande de pé é garantir o desconto integral da cobrança da tarifa de uso da rede das distribuidoras, a chamada Tusd. Isso porque os empreendimentos que pedirem conexão à rede elétrica têm prazo de um ano para começar a operar.

“Os projetos têm prazo para serem construídos, caso contrário eles perdem o benefício integral e muitos deles ainda estão em posse de pequenas empresas ou desenvolvedores que talvez não tenham o capital ou a capacidade de realização. Então vemos uma janela boa para compra e podemos ter 500 MW até o fim de 2024”, afirma o chefe da Brookfield.

Com o novo aporte, a gestora acumula R$ 29 bilhões de ativos sob gestão, com 3,3 GW de capacidade operacional, como eólica e solar, e 2,4 GW no pipeline de desenvolvimento, além de 500 MW em formação com os projetos de geração distribuída.

Sattler, atual CEO, conta que a energia gerada deve ser vendida, inicialmente, para clientes comerciais, como redes de farmácias, supermercados e shopping centers, com descontos de 15% em relação ao mercado regulado, aquele atendido pelas distribuidoras. “Outra parte da energia será vendida para empresas que atuam na distribuição e captação de clientes, como a Nextron Energia, Bolt Energy e Lemon Energia. A ideia é chegar também nos consumidores residenciais por meio de geração distribuída por assinatura”, diz.

Como os projetos de GD utilizam a rede de distribuição, o que pode atrapalhar é a demora das concessionárias em fazer a conexão. Sattler relata que a relação com as concessionárias tem sido difícil, mas tem trabalhado para cumprir os prazos.

A tensão entre os setores surgiu à medida que as distribuidoras viram seus negócios sendo corroídos pela ascensão da geração distribuída, a qual tem atraído cada vez mais consumidores. Os prejuízos resultantes da adesão maciça desses clientes são transferidos para os consumidores que não contam com geração distribuída, por meio de revisões tarifárias, com o objetivo restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro das concessionárias.

Por Robson Rodrigues